Apercebi-me que nunca estamos preparados para cuidar dos nossos pais. Os nossos pais...
Os nossos pais, regra geral, são aquela espécie de super herói em versão mais real. Uma versão do superhomem com defeitos, ainda que com poderes mágicos, são seres que estão ali para cuidar de nós, para nos ajudar a resolver problemas, para nos amparar.
O meu superhomem, com todos os defeitos que tem, é o meu superhomem. Quando não está bem, parece que fica pequenino. Perdeu peso, tem os braços fininhos e quando ninguém está a ver tem um olhar triste. Tem uma força de leão, de superhomem, que o faz ter vontade de lutar por uma vida que ele sabe que é fugaz, ele sabe que ela está a fugir.
Quando pensa que ninguém está a ver o olhar fica vazio, triste, sem esperança. Não há esperança de uma cura, disso já sabemos, não há esperança de um milagre, há apenas esperança de conseguir viver, o máximo tempo possível, com o cancro. Nós sabemos, eu e ele, que só vale a pena lutar enquanto houver qualidade de vida, enquanto não for só uma vida de sofrimento, de dificuldades respiratórias, de inferno.
Eu ontem pedi ao universo, porque nunca sei bem a quem pedir, que quando acabasse o tempo com alguma qualidade de vida, que quando fosse para ficar em sofrimento, que o levassem rapidamente e sem sofrimento, para ele claro, porque para nós, para mim, será uma espécie de fim de mundo.
E é assim, que de repente, isso vira um blog depressivo - desculpem-me. Vou voltar, vou voltar a mim, preciso só de uns momentos.