No meu tempo brinquei às bonecas e às cozinhas.
No meu tempo brinquei aos chás, com bonecas e pessoas imaginárias.
No meu tempo brinquei às mães.
No meu tempo brinquei às escondidas e às apanhadas.
No meu tempo brinquei na terra, com roupa velha e às vezes nova.
No meu tempo apanhei fruta, muita vezes antes de estar madura, das árvores.
No meu tempo brinquei aos "mal casados".
No meu tempo brinquei à bola.
No meu tempo brinquei às cabeleireiras, enquanto cortava o meu próprio cabelo a às vezes ào das vizinhas.
No meu tempo brinquei à macaca.
No meu tempo corei no primeiro beijo.
No meu tempo corei com a primeira carta de amor que recebi e que escrevi.
Hoje, já longe do meu tempo, percebi que aquele tempo está longe como perdido. Já não existem as sensações mágicas de crianças e de adolescentes. Já não se sente os cheiros das estações, já não se brinca com a imaginação, já não se sente borboletas no estômago e calor na cara com a chegada do amor, porque não há tempo.
Não há tempo de ser criança, nem adolescente, brinca-se aos grandes com corpos e mentes de pequeninos.
Hoje ouvi de uma criança adolescente, que devia estar a viver naquele meu tempo, hoje ouvi da boca de uma pessoa pequenina assim:
Claro que ainda sou virgem, toda a gente sabe que os broches não contam.
E dei por mim a pensar, não é "a juventude que está perdida" é o tempo, o tempo está perdido, aquele tempo, assim como outros, perderam-se. E isso, sem dúvida, entristece.
4 comentários:
É verdade, entristece mesmo. Ler este texto deixou-me a pensar que no meu tempo, um broche era uma pregadeira, ou alfinete de peito.
Este tempo até os broches alterou. eheheh
Ah, como te compreendo! Aliás, este tem sido tema de conversa por estes lados, porque me espanta a evolução do mundo. Eu SÓ tenho 19 anos e olho para miúdas de 13, 14, completamente em choque. Eu era tão inocente, tão simples, e hoje em dia elas maquilham-se e vestem-se melhor do que eu. E saem à noite! Ou sou eu que sou muito antiquada ou isto não me faz muito sentido... mas as discotecas estão cheias de miúdos com a mesma idade com que eu ainda brincava com bonecas e fantasiava que era dona de um restaurante, lá nos meus tachos e panelas de plástico.
Epá, isto faz-me mesmo confusão. Ainda no sunset (dois dias de música eletrónica na praia) juro que lá andavam miúdos que não tinham mais de 10, 11 anos. Sozinhos, com amigos.
E o pior? Um dia vão ser eles a mandar no país e no mundo.
Sou desse teu tempo, do bom. No meu tempo eu não fazia ideia do que muitas coisas eram, era realmente inocente, como se deve ser quando se é pequeno. E as nossas brincadeiras eram mesmo brincadeiras. Era tão bom. Fico chocada com o que os putos fazem e dizem nos dias que correm.
Os valores estão todos alterados...
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