Sabia que ia acontecer, era certo, tão certo como raras coisas são nessa vida de incerteza. Sofri e chorei tanto na antecipação do dia, o que na verdade não aliviou em nada o dia. Sinto que preciso de falar sobre isso e ao mesmo tempo tentar verbalizar tudo torna-o ainda mais real, o que parece que não ajuda, mesmo com a certeza que a dor nunca deixou de ser real.
Não quero recordar o pesadelo dos teus últimos dias, não quero recordar o final dos teus dias, dos nossos dias. Quero relembrar os sorrisos, o amor, a vida, a personalidade, o sentido de humor, quero recordar sem dor.
Quero parar de chorar a perda e as saudades e ao mesmo tempo angustia-me que te esqueça. Acho impossível esquecer-te, mas às vezes, só às vezes, passam minutos que não me lembro que não estás. Às vezes deito-me na cama e esqueço-me que não estás na tua. Já te vi várias vezes, e quando me lembro que já não é possível, é como se me estivessem a arrancar órgãos. Dizem que a dor passa e ficam só as saudades, informo que tenho os dois.
Se calhar, daqui a dias, consigo passar para aqui o tranbulhão de sentimentos que para aqui vai. Se calhar escrevo só sobre os nossos dias bons, se calhar vou precisar de contar os maus. Não sei. Se calhar se contar o inferno que passamos naqueles dias as pessoas percebem o porquê da necessidade da eutanásia/suicídio assistido ser legal.
Hoje apenas sei que, passado um mês que partiste, não há um dia que não me lembre de ti meu querido pai e a puta da falta que me fazes.